quinta-feira, 23 de abril de 2009

Ao Largo...

Lembro-me quando era mais garoto quando ia visitar nas férias do verão, os meus avós, primos e irmãos do meu pai, à terra natal dele, juntamente com o meu irmão e, que inclusivamente, por coincidência era, também, berço de um ilustre conterrâneo da terra já falecido, que outrora tivera a responsabilidade de conduzir os destinos do País durante muito tempo.

Ainda trago na memória, as vezes que ia com a minha avó à então vila, hoje cidade, levar o almoço ao meu avô no seu local de trabalho, que era uma antiga carpintaria onde o meu avô executava as suas "obras primas", às quais, teve a honra de receber uma lembrança, do então, Presidente da República, na altura, o General Ramalho Eanes, num certame de exposição de Artes e Ofícios, que se não me engano, realizou-se em Vila Real, ou então, numa bem distinguida cidade a norte do Douro.

Já lá vai o tempo em que íamos à vila, aproximadamente, semana a semana com uma carrinha de caixa aberta e bidons vazios, juntamente, com os meus primos e a minha tia Olinda, buscar água ao chafariz cá em baixo, ao pé da mercearia de um primo da minha Avó, junto ao ribeiro que ali passa. Para lá chegar-mos, ia-mos desde as Pedras Negras, onde estes meus parentes viviam, num bairro social, construído com o intuito de albergar os retornados vindos das ex-colónias, após, a independência de 1975. Hoje já não existe, actualmente, mas na altura, ainda a água canalizada não chegava lá ao alto das Pedras Negras, ficando-se mais abaixo, nas Fontainhas. Ainda, assim, divertíamos-nos muito a nadar na lagoa, lá nas Pedras Negras, onde existia um pequeno salgueiro no meio. Infelizmente, penso que já foi subterrada.

Mas, continuando, descia-mos lá do alto, a bordo na carrinha, uns na cabine, outros na caixa cá atrás a segurar os bidons e jerricans para transportar a água do chafariz da vila. Chegando ao centro, diante do antigo quartel dos bombeiros, onde existia um polícia sinaleiro ao centro a comandar o trânsito. Virávamos à esquerda, passávamos o largo Dr. Salazar, que na altura ainda tinha o que restava do antigo posto da guarda e do seu presídio. Era aí que se fazia o mercado semanal. Ainda oiço e sinto a azáfama dos vendedores na rua, o apregoar a seu soldo, os preços de hortaliças frescas de um lado, criação e peixe do outro, aos clientes transeuntes na rua.

Passávamos a carpintaria do meu avô e mais cinquenta metros, chegávamos a um grande largo, onde existia um grande Chorão, que servia na sua sombra uma explanada a um café com o mesmo nome da árvore ali plantada. Para lá, há uma pequena ponte que atravessa o ribeiro que vai desaguar ao rio Dão, e chega-se aos passos do Concelho, instalado numa antiga casa solarenga, hoje toda recuperada e vibrante.

Toda esta história, vem em sequência, da notícia publicada na imprensa acerca de Santa Comba Dão, acerca, daquele pequeno largo, que nunca fora um estorvo para ninguém. Onde se fazia, ali o comercio ambulante e que hoje, após muitos anos está recuperado. Não percebo, porquê? Eu nasci no dia 25 de Abril e, não me ofendo com tal situação! Não sei qual é polémica? Aquele largo sempre foi o Largo Dr. Salazar, antes dessa data e continuará a sê-lo, por muitos anos! A Democracia tem que aprender a viver com o seu passado e, não querer impor que se coloque a borracha e que se apague alguns momentos da nossa história. Então, teríamos que fazer uma revisão completa dos factos. Esses fantasmas já não fazem sentido e, o estigma muitas vezes ligados à esquerda mais impaciente, consegue provocar muito alarido.

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